A atribuição á antiga “Rua do Pimenta”, em Coja, de “Rua Dr. Alfredo dos Santos Júnior”, gerou alguma contestação na última Assembleia Municipal de Arganil, com alguns dos deputados a manifestarem a sua indignação. A medida, já havia sido deliberada em 2013 pela Câmara Municipal de Arganil, por proposta da anterior Junta de Freguesia de Coja, mas só no inicio do corrente ano foi colocada a placa com esse topónimo. O alerta já tinha sido dado Por Fernando Valle, em finais de Janeiro, quando “estupefacto”, se apercebeu da situação, alertado por um telefonema de um amigo. “Os democratas de Coja e a União de Freguesias devem iniciar imediatamente e de forma determinada o inicio do processo para retirar o nome de Santos Júnior daquela Rua”,explicou. “Em primeiro lugar pelo repúdio ao branqueamento da história e á tentativa de reabilitação de um nome que é sinónimo de repressão violenta e em segundo lugar pelo profundo respeito pelos homens e mulheres que foram perseguidos, deportados, presos, torturados e mortos durante o Estado Novo, mas sobretudo dos que foram vítimas do período em que Santos Júnior foi Ministro do Interior”, adiantou o deputado socialista. Entretanto, volvidos alguns meses e mantendo-se a situação, Fernando Valle evocou o assunto na Assembleia Municipal, declarando que, “temos nas ruas de Coja, um assassino moral que nos desqualifica a todos os níveis enquanto cidadãos”, acrescentando ainda que, “o antigo executivo da Junta de Freguesia de Coja cometeu a ousadia de propor o nome de um dos autores morais do assassinato do General Humberto Delgado, para uma das ruas da vila de Coja”. Assim sendo, e confessando-se “humilhado enquanto democrata e sendo algo que humilha este concelho e particularmente a vila de Coja”, solicitou á Câmara Municipal de Arganil “que iniciei o processo de remoção do nome de Alfredo dos Santos Júnior daquela rua”. Também o deputado do PCP, António João Lopes abordou o assunto, “protestando”, “pela designação que foi dada a uma rua em Coja, de um antigo emento do Estado Novo, que durante o seu período de ministro foi responsável pela PIDE, pela morte de Humberto Delgado e mantendo em prisão centenas de trabalhadores e estudantes que espancou”.“Espero que o nome da rua seja alterado”, exortou. Subscrevendo as palavras do deputado comunista, Eugénio Frois, deputado socialista, afirmou que “em Coja aquela figura não é grata”, dando a conhecer que “muitas pessoas me abordam para falar sobre isso, dizendo que não está bem e que essa atribuição não se coaduna com os nossos valores e vivências”. Todavia e tranquilizando os deputados, Ricardo Pereira Alves, assegurou que “não há nenhum processo de atribuição de toponímia que esteja fechado e que seja imutável”, adiantando que, “estamos abertos a poder discutir uma eventual alteração em matéria toponímica na vila de Coja”. Note-se que Alfredo dos Santos Júnior, médico e político português, desempenhou funções relevantes durante o Estado Novo, tendo sido presidente da Câmara Municipal de Gouveia e Governador Civil do Distrito da Guarda e Ministro do interior, tendo sido responsável pelas ondas de repressão sobre o movimento estudantil de 1962 e pelas manifestações operárias desse mesmo ano. A sua actuação no Ministério do Interior ficou ainda marcada pelo notório reforço da acção repressiva do regime.